Aurora me pede um caderninho novo. Quer começar um diário. Procura, na papelaria, um caderno bonito. “Esse não, pai. Quando o caderno tem a data me sinto pressionada. Se não escrevo um dia, parece que estou com pendências”, ela disse. Minha filha tem nove anos e já sente que tem pendências. Digo a ela: criança só tem que brincar. Aprender umas coisinhas na escola, mas principalmente brincar. Convido-a pra viajar semana que vem. Ela diz que não pode faltar aula. Minhas duas filhas odeiam matar aula. São o contrário do que eu era. Eu pequeno, se minha mãe dissesse: “Arruma a mala, vamos viajar amanhã”, eu nem perguntaria pra onde. Qualquer coisa, menos escola. Eu queria relaxar, curtir a praia, brincar com amigos. Tenho esperança de que façam isso na escola. Espero que sejam felizes na escola, não apenas produtivas. Um pai me diz que o filho, chorando, disse que se sentia inútil. Aos oito anos. Inútil! Mas, qual a utilidade de uma criança? Senão, deixar o mundo mais leve, divertido, criativo, brincalhão. Como pode uma criança ser inútil? Só se não estiver sendo criança. Entendo que queremos que nossos filhos sejam felizes. E que no mundo em que vivemos, temos a impressão de que só são felizes os médicos e empresários. Queremos que as crianças aprendam empreendedorismo, educação financeira, que se destaquem nos esportes e aprendam oito idiomas. Queremos que sejam bem sucedidos, estudem no exterior, façam intercâmbio e, depois de toda esta dedicação, sejam felizes. Ora, já conversei com dezenas de empresários “bem sucedidos” que pensavam em se matar. Isso é ser bem sucedido? Quando alguém pergunta a um pai o que quer que o filho seja, a resposta costuma ser: “Quero apenas que sejam felizes”. Não há criatura mais feliz do que um criança brincando. Antes de aprendermos a produzir, devemos aprender a rir. Antes de trabalhar, devemos brincar. Antes de ser bem sucedidos, deveríamos simplesmente ser. E entender que isso basta. Autor do texto: Marcos Piangers #EscoladeSuperPais Site de origem: www.piangers.com |